A Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEEM-CNBB), em parceria com a Rede Igrejas e Mineração, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), o Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e o Grupo de Estudo sobre Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) da UFMA, com outras organizações parceiras, em comunhão com a Diocese de Zé Doca (MA), articulam uma visita de apoio especial ao Povo Ka’apor, na região noroeste do estado do Maranhão, divisa com o nordeste do Pará. A visita será realizada nos dias 19 e 20 de dezembro e permitirá dialogar com representantes indígenas, Pastorais Sociais-Repam (MA), movimentos populares e organizações de direitos humanos.
O objetivo da visita é fazer um momento de escuta do povo Ka’apor sobre as suas experiências de autoproteção, suas reivindicações e denúncias, para dar-lhe mais visibilidade e apoio. Haverá reflexões e partilha sobre a situação do estado do Maranhão, as resistências e iniciativas dos povos e das organizações que defendem os direitos humanos e da natureza.
O encontro é reflexo do pedido de socorro do Povo Ka ́apor durante o Fórum Social Panamazônico (FOSPA), realizado em Belém (PA) em julho de 2022. Um diálogo de algumas lideranças indígenas Ka’apor com assessores desta Comissão que destacou a necessidade de um apoio formal da Igreja Católica à causa deste povo e a suas reivindicações frente às autoridades do Estado.
Em diálogos e articulações com dom Evaldo Carvalho dos Santos, bispo de Viana (MA) e referente pela pastoral indigenista do estado e pelo Cimi Regional Maranhão; e dom João Kot, bispo de Zé Doca (MA), a Comissão propôs ao Conselho Tuxa Ta Pame uma visita ao povo Ka’apor. Estarão presentes nesta visita, dom Gabriele Marchesi, bispo de Floresta (PE) e membro da Comissão para Ecologia Integral e Mineração; Pe. Dário Bossi, assessor da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração e da Comissão Sociotransformadora da CNBB; Gilderlan Rodrigues do Cimi Regional Maranhão; Elitiel Guedes, representando o Movimentos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MST) e integrantes das pastorais e movimentos populares do Maranhão.
Dom Gabriel Marchesi, bispo de Floresta (PE), e membro da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração, ressalta que a proposta da visita é “ver e escutar, a fim de responder um pedido de socorro lançado pelo povo Ka’apor. Mais uma vez, um povo indígena é obrigado a passar por uma história de invasão das suas terras, de violência de madeireiros e garimpeiros, de ameaças e de assassinatos, de destruição das suas terras através do avanço da mineração”. O bispo lembra que, novamente, a arrogância da força se sobrepõe ao respeito da justiça. “A violência do poder econômico e a cobiça míope dos interesses particulares que lutam contra o direito à vida e o futuro de um povo não são novidade, infelizmente”, reflete dom Marchesi.
Assédio do mercado de carbono
O mercado de carbono é uma grande ameaça para o povo Ka’apor. O assédio desse mercado já causa conflitos internos o que desrespeita a única e maior organização ancestral do povo, os Tuxa Ta Pame. O território possui diversidade de flora e fauna e é alvo de empresas internacionais de minérios que atuam de forma irregular na região.
Contestando a precariedade do Estado frente aos ataques sistemáticos a suas terras, os Ka’apor montaram autonomamente um sofisticado e eficaz sistema de autoproteção. Os “Guardiões da Floresta” constroem sua proteção a partir de políticas autodeterminadas de educação e saúde, vigilância e demarcação constantes das fronteiras de seu território e uma organização comunitária coletiva. Além da violência física que os povos sofrem, o território sofre violações ambientais com ameaça dos madeireiros, dos garimpeiros e dos projetos de mineração industrial, que ganharam força nos últimos anos.
Coletiva de Imprensa
Logo após a visita, está prevista para o dia 21/12, às 08h30, uma coletiva de imprensa. A delegação irá partilhar as impressões sobre a missão, apresentar denúncias e recomendações e testemunhar como a Comissão e a Igreja local pretendem continuar acompanhando a causa deste povo indígena. A coletiva será realizada no Instituto de Estudos Superiores do Maranhão (IESMA), Rua do Rancho, 110, região central de São Luís, MA. Está previsto para o dia 21/12 às 08h30 uma coletiva de imprensa.