Muito antes das chegada dos franceses que batizam o local hoje conhecido como São Luís ‘, vários povos já moravam em diversas regiões da Ilha de Upaon-Açu, que carrega este nome de origem indígena.
Os descobridores de São Luís
Apesar de algumas controvérsias, a maioria dos historiadores concordam que São Luís foi fundada pelos franceses, no dia 8 de setembro de 1612. O nome foi uma homenagem ao rei menino da França, Luís XIII.
Mas, o verdadeiro ‘descobrimento’ das terras na Ilha de Upaon-Açu remonta a, pelo menos, sete mil anos antes, de acordo com o historiador e arqueólogo Arkley Marques Bandeira.
A Ilha já era ocupada por povos Tupinambá, que seriam os ancestrais dos indígenas do tronco linguístico Tupi, que ocupam o interior do Maranhão. Eles viviam da da pesca e coleta de moluscos.
“Esses povos habitavam sítios arqueológicos denominados Sambaquis, chamados de ‘monte de conhas’, em Tupi. Essas antigas áreas já foram identificadas na região do rio Bacanga, em Panaquatira e em Iguaíba, em Paço do Lumiar. Segundo as pesquisas, os grupos permaneceram ocupando a região até cerca de 1500 anos atrás quando chegam da região Amazônica grupos agricultores, que já cultivavam o milho e mandioca, e tinha um modo de vida sedentário”, aponta o pesquisador.
Sítio baixo Jaguarema é local que guarda itens arqueológicos dos primeiros habitantes de São Luís
O historiador Antonio Noberto completa afirmando que, ao chegarem a Ilha de Upaon-Açu, houve ainda um conflito entre alguns desses povos, no qual os tupinambás venceram e então foram se dividindo em aldeias por várias regiões.
“Os tupinambás venceram os tapuias, os expulsaram e os tornaram cativos. Isso pode ser comprovado pelas datações dos arqueólogos Desdedith Leite Soares e Eliane Gaspar”, afirma Noberto.
Material arqueológico ligados aos antigos povos Tupinambá, em São Luís
Segundo os relatos dos franceses, existiam 27 aldeias por toda a Ilha de Upaon-Açu, ou ‘Ilha Grande’. Essas aldeias se tornaram, posteriormente, os atuais bairros do Araçagy, Maioba, Pindaí, Vinhais Velho, Panaquatira, São José dos Índios, Iguaíba, Tendal, Mocajituba, Turu, dentre outros.
“Os franceses fizeram os primeiros levantamentos (recenseamento) dos moradores da Ilha. A maior delas era São José dos Índios e a segunda maior era a de Uçaguaba (atual Vinhais Velho)”, conta Noberto.
Processo de etnocídio dos indígenas
Com os franceses, os povos originários viveram algum período sem conflitos, mas, com a chegada dos portugueses, tudo mudou.
Segundo os pesquisadores, o Frei e escritor luxemburguês João Felipe Bettendorf, que edificou o Palácio Episcopal, ao lado da Igreja da Sé, em São Luís, e fundou Santarém/PA em 1661, escreveu nas suas Crônicas algumas informações sobre como os povos originários foram desaparecendo de São Luís.
“Duas décadas após a partida dos franceses… das 27 aldeias restaram apenas três (…) Quanta devia ser a crueldade daqueles que por guerras e contendas dizimou tão grande gentilidade'”, conta Noberto.
“Os tupinambás venceram os tapuias, os expulsaram e os tornaram cativos. Isso pode ser comprovado pelas datações dos arqueólogos Desdedith Leite Soares e Eliane Gaspar”, afirma Noberto.
Materiais produzidos por indígenas que viviam no Maranhão antes da chegada dos portugueses e franceses
A chegada dos colonizadores europeus foi, aos poucos, matando os povos originários, num processo de genocídio e etnocídio por meio da transmissão de doenças, escravização e expulsão dos indígenas de seus territórios.
De lá pra cá, pouco sobrou sobre os povos que viviam em São Luís antes dos franceses, mas alguns itens arqueológicos podem ser encontrados em museus, como no Centro de Pesquisa de História Natural, no Centro Histórico.
Centro de Pesquisa de História Natural, em São Luís, guarda um pouco dos artefatos dos antigos povos indígenas no Maranhão
Traços dos povos originários na atualidade
A partir da busca de uma ancestralidade Tupinambá, atualmente é possível perceber influências no modo de vida dos povos originários em regiões da Ilha de São Luís, como na região da Raposa e do Vinhais Velho. Isso pode ser visto na forma de produção agrícola e na arquitetura.
Centro de Pesquisa de História Natural guarda um grande acervo dos povos originários do Maranhão
O estudo do período pré-colonial em São Luís se baseia no registro arqueológico e outras fontes documentais, como mapas antigos e relatos orais registrados. A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) possui uma reserva técnica com mais de 200 mil peças que ajuda a contar a história dos povos que viviam em São Luís, ao longo dos últimos sete milênios.