Meu nome é Petronio, e sou Ka’apor, assim como o Cacique Anakan Pukú era. Moramos aqui na Aldeia Turizinho, no coração do Alto Turiaçu, onde a floresta ainda nos abraça e guarda as memórias dos nossos grandes.
Anakan Pukú… Ah, esse era um verdadeiro gigante entre nós, um chefe de respeito, um homem de sabedoria que a gente não encontra mais em cada esquina. Ele não era só forte no corpo, era forte na mente, no coração. Conhecia cada planta, cada animal, cada canto de passarinho. Mas o mais importante, ele conhecia a nossa história, os nossos mitos, as nossas canções. Ele era a nossa biblioteca viva, o nosso guardião. Quando ele falava, todos paravam para ouvir, porque suas palavras vinham da alma do nosso povo, de gerações e gerações que vieram antes dele.
Foi na época de Anakan Pukú que os brancos começaram a chegar mais perto de nós, os que vinham de fora da floresta para ver e aprender. Lembro que se falava muito do Darcy Ribeiro, um homem que queria escrever sobre a nossa vida, sobre nossos costumes. Anakan Pukú, com sua calma e sua inteligência, conversava com ele, explicava o nosso jeito de ser, a nossa relação com a terra. Ele não tinha medo de mostrar quem éramos, mas sempre com a sabedoria de proteger o que é mais sagrado.
Depois veio o Vladimir Kozák, que trazia aquelas máquinas que faziam imagens, que filmavam a gente. Anakan Pukú também recebeu ele. Imagina só, nosso chefe, um homem da floresta, sendo filmado, pintado. Ele entendia que era importante que o mundo soubesse que nós existimos, que temos nossa própria força, nossa própria beleza. As imagens que Kozák fez dele, da nossa aldeia, são como um espelho do passado, mostrando o rosto de um tempo que não volta mais, mas que a gente faz questão de não esquecer.
Anakan Pukú nos ensinou que a nossa terra é a nossa vida, que a nossa língua é a nossa alma, e que os nossos parentes são a nossa força. Ele viveu e respirou o Alto Turiaçu, cada árvore, cada rio era parte dele. Seus ensinamentos ainda ecoam por aqui, em cada canto da aldeia, em cada sorriso das crianças. É por causa de homens como ele que nós, os Ka’apor de hoje, continuamos firmes, lutando pela nossa terra e pela nossa cultura.
Ele nos deixou um legado de coragem e sabedoria. E enquanto houver um Ka’apor para contar sua história, Anakan Pukú nunca vai morrer de verdade. Ele vive nas nossas lembranças, nos nossos corações e na nossa luta.
Darcy Ribeiro e os Ka’apor: Darcy Ribeiro teve um contato significativo com os Ka’apor entre 1949 e 1951. Ele documentou a cultura e o modo de vida dos Ka’apor, e Anakan Pukú foi uma figura central nessas documentações. Ribeiro o considerava um “intelectual indígena” devido ao seu conhecimento da cultura Ka’apor.
Vladimir Kozák e os Ka’apor: Vladimir Kozák, um cineasta e etnógrafo, registrou os Ka’apor entre 1958 e 1959. Seus filmes e fotografias são registros visuais importantes da cultura Ka’apor da época. Kozák documentou rituais, atividades diárias e adornos, fornecendo informações valiosas sobre a cultura Ka’apor.
Anakan Pukú: Anakan Pukú foi um importante líder Ka’apor, que interagiu com Darcy Ribeiro e Vladimir Kozák. Ele é mencionado nos trabalhos de ambos como uma figura chave na cultura Ka’apor. Kozák fez uma pintura de Anakan Pukú, demonstrando sua importância.
Conexão entre Kozák, Ribeiro e Anakan Pukú: Kozák e Ribeiro, ao documentarem os Ka’apor, interagiram com Anakan Pukú. Seus trabalhos se complementam, oferecendo uma visão abrangente da cultura Ka’apor. Os registros de Kozák, especialmente, fornecem uma representação visual da pessoa de Anakan Pukú e do povo Ka’apor.
As obras de Darcy Ribeiro e Vladimir Kozák, que incluem menções e representações de Anakan Pukú, são essenciais para entender a cultura e a história do povo Ka’apor. O acervo de Vladimir Kozák, que inclui filmes, fotografias e pinturas, está principalmente no Museu Paranaense.
A Vida de Anakan Pukú em Sua Aldeia no Alto Turiaçu
Anakan Pukú foi uma figura central e inesquecível na vida do povo Ka’apor, na Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão. Sua existência foi profundamente enraizada na vida da aldeia, que em alguns momentos foi conhecida como Apin ou até mesmo Anakanpukú em sua homenagem.
Como cacique e líder respeitado, sua vida na aldeia era de grande responsabilidade. Ele não apenas organizava as atividades diárias, mas também era o guardião das tradições mais profundas. Anakan Pukú era visto como um sábio, detentor de um conhecimento vastíssimo sobre os mitos, a história, as medicinas da floresta, e a própria língua Ka’apor. Sua sabedoria era consultada em momentos de decisão, em cerimônias e na resolução de conflitos internos. Ele era o pilar da identidade e da continuidade cultural de seu povo.
Sua vida na aldeia era marcada pela participação ativa em todos os aspectos do cotidiano Ka’apor:
Rituais e Festas: Ele era uma presença fundamental em rituais como a Festa da Nominação, que inseria as novas gerações na comunidade. Sua participação nesses eventos era essencial para a transmissão de valores e para a validação das cerimônias.
Interações com o Mundo Exterior: Anakan Pukú foi o principal interlocutor dos antropólogos que visitaram os Ka’apor, como Darcy Ribeiro (entre 1949 e 1951) e Vladimir Kozák (entre 1958 e 1959). Ele gerenciou essas interações com sabedoria, decidindo o que compartilhar e o que preservar, sempre visando proteger a cultura e o bem-estar de seu povo. Essas “lutas” não eram de conflito pessoal, mas sim os desafios de um líder em um período de intensa mudança e contato.
Defesa do Território e da Cultura: Ele vivenciou as pressões sobre o território Ka’apor (invasões de madeireiros, caçadores, etc.) e as ameaças às suas tradições. Sua vida era uma constante demonstração de resistência e de dedicação à preservação do modo de vida Ka’apor.
Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.
Darcy Ribeiro