No dia 5 de setembro, em um tempo não muito distante, sempre acordava mais cedo para ver as escolas desfilarem na Avenida Vitorino Freire, na Areinha. Nunca compreendi o que seria de fato o dia da raça, mas sabia que era importante. Nas escolas, pouco se discutia sobre racismo, raça. Chamar alguém de negro? Era visto como um insulto, audácia, no máximo, eu era vista como café com leite, nas brincadeiras entre as crianças que compartilharam comigo a mesma faixa etária. Longos anos se passaram, a representação do negro deixou de ser um lugar de servidão, discussões sobre a temática antirracista tomaram folego no Brasil, mas eu ainda não entendia o motivo de comemorar o dia da raça. Ao ser pedida, caro eleitor, para escrever este texto, pensei: por que o Brasil, país que tem uma estrutura extremamente racista, comemora o dia da raça? Como boa pesquisadora que sou, fui em busca de fazer o que todo pesquisador faz: investigar. Descobri que em 1939, em uma tentativa de unir racialmente o Brasil, o Presidente Getúlio Vargas instituiu que o dia 5 de setembro seria comemorado o Dia da Raça. Segundo Rocha Filho, esse discurso moralista incentivou o mito da democracia racial, fato que contribuiu de forma perversa para a destruturação e desorganização do povo negro brasileiro. Ao ler o trabalho de Rocha Filho, pensei: vale a pena comemorar o dia da raça? E vi que não. Vale a pena ressignificar os sentidos sobre o dia 5 de setembro e lembrar, mais uma vez, da luta dos nossos ancestrais e o Brasil que queremos para as nossas crianças e jovens negros. Muita coisa já foi feita, muita coisa ainda precisa ser feita. Quando penso na cidade de São Luís, na sua vasta cultura de origem negra e indígena, nas pessoas afrodescendentes, na música negra, sinto a imensa necessidade de ver pessoas como eu ocupando espaços de poder político. De fato, muito se avançou, mas ainda precisamos ir mais longe pelo nosso povo preto e periférico. Recentemente, conheci um Coletivo que concorre com a força, a coragem e a união de pretos e pretas evangélicos, praticantes de religião de matriz africana, regueiros, professores,artistas que são distintos e tão iguais. Em comum, esse grupo luta pela vida e pensam a cidade de São Luís para os pretos e periféricos. Sinto-me representada pelas suas individualidades que se fazem coletivas. Por isso é que afirmo o meu voto no Coletivo Raça, no dia 6 de outubro de 2024.
Laryssa Porto. Mestranda em letras.