O Maranhão, terra de rica história e complexas dinâmicas de poder, assistiu a longos ciclos de influência política que moldaram sua trajetória. Do coronelismo ancestral ao “vitorinismo” do senador Vitorino Freire, um pernambucano com forte ascendência, mas sem jamais governar o estado, a política maranhense sempre exibiu peculiaridades. Em seguida, o “sarneísmo”, sistema que se estendeu por quase meio século, elevou José Sarney ao patamar de figura central na história política contemporânea do Brasil.
Mais recentemente, o ciclo liderado por Flávio Dino representou uma ruptura significativa. Eleito governador em 2014 e 2018, Dino desmantelou o sarneísmo pela força do voto popular, ecoando a forma como Sarney outrora pôs fim ao vitorinismo. A memória de Jackson Lago, um líder que personificou a resistência ao sarneísmo e ascendeu ao governo em 2007, paira como um farol de alternância e esperança por um Maranhão mais justo e democrático. Sua trajetória, marcada pela luta contra o poder estabelecido, serve de contraponto aos longos períodos de domínio oligárquico.
Agora, no limiar de 2025, o atual governador Carlos Brandão se encontra em um momento crucial. Herdeiro do “dinismo”, ele navega por um cenário nebuloso em busca de um caminho para 2026 que não fragilize o legado de seu antecessor, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, nem o destitua do comando do Palácio dos Leões, palco de tantas decisões históricas.
A estrada rumo ao próximo pleito se revela sinuosa, com pelo menos seis nomes já despontando como potenciais candidatos ao governo. O prefeito de São Luís, Eduardo Braide, surge com vantagem nas pesquisas, seguido por Lahesio Bonfim, que surpreendeu ao quase derrotar Brandão em 2022. O vice-governador Felipe Camarão e a deputada Iracema Vale representam a ala mais à esquerda, enquanto Roberto Rocha e Hilton Gonçalo orbitam o centro-direita.
Essa fragmentação do espectro político, especialmente no centro-direita e na extrema direita bolsonarista, impõe um desafio considerável a Brandão. A escolha de um sucessor que não polarize excessivamente o eleitorado, idealmente com um perfil de centro como o seu, torna-se uma equação complexa em um Brasil marcado por uma profunda divisão ideológica entre lulismo e bolsonarismo.
A imprevisibilidade do cenário nacional, influenciado até mesmo por eventos internacionais como uma possível volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, adiciona uma camada extra de incerteza às projeções para 2026. Os institutos de pesquisa enfrentam o desafio de traçar cenários confiáveis em meio a essa turbulência ideológica.
A história política do Maranhão, desde os tempos do coronelismo, passando pelo vitorinismo e pelo longo ciclo sarneísta, testemunhou a ascensão e queda de diferentes modelos de poder. A breve, mas significativa, passagem de Jackson Lago pelo governo representou um sopro de renovação em meio a essas estruturas consolidadas. Agora, com o “dinismo” em transição, a questão que se coloca é se Carlos Brandão conseguirá consolidar um “brandonismo” ou se uma nova força política emergirá para redefinir o futuro do estado.
A velha máxima do entrosamento entre o poder estadual e federal, alicerçada em alianças partidárias e no uso da máquina pública, continua a ecoar. No entanto, o surgimento das plataformas digitais e das redes sociais como influenciadores poderosos introduz um novo elemento nessa dinâmica, alterando costumes, regras e até mesmo a concepção de liberdade de expressão, muitas vezes deturpada pela disseminação de notícias falsas.
Nesse novo ambiente digital, onde a verdade se esvai e o vale-tudo das fake news ameaça sobrepujar valores e competências, a responsabilidade dos governantes é ainda maior. Seus pré-requisitos para a gestão pública são agora escrutinados pelas redes sociais, um palco sem regras claras. No Maranhão, assim como no Brasil, a polarização ideológica lança uma sombra de imprevisibilidade sobre as eleições de 2026, tornando o futuro político do estado uma tela em branco à espera de novos protagonistas e rumos. A memória de Jackson Lago e seu legado de luta por um Maranhão mais justo serve como um lembrete de que a história política é feita de ciclos, rupturas e a eterna busca por um futuro melhor.