Raimundo Assub foi eleito vereador de São Luís por quatro vezes e também chegou a assumir a Prefeitura de São Luís, em substituição ao então prefeito Jackson Lago em uma de suas viagens. Este ano, chegou a lançar sua pré-candidatura à Prefeitura de Raposa, mas desistiu da candidatura. Assub era presidente do diretório municipal do PMDB, em Raposa.
Dotado de um grande carisma e de um forte potencial de articulação, o saudoso ex-vereador Raimundo Assub agregava ainda aos seus predicados, a serenidade, a simplicidade, a solidariedade e uma contagiante alegria, que o fazia trilhar os caminhos da fantasia em suas conversas, como forma de alegrar o interlocutor. Tive o privilégio de fazer parte do seu ciclo de amizade. Através dele, ingressei como funcionário efetivo da Câmara Municipal de São Luís, em 1988.
Meus primeiros contatos com o então parlamentar ocorreram em 1984, quando fazia cobertura do Legislativo Municipal para o JORNAL DE HOJE. Nossa relação se fortaleceu por um motivo muito singular, o que viria a me fazer seu admirador, por conta do esforço empreendido para divulgar uma proposta de sua autoria, visando beneficiar a comunidade do bairro da Estiva.
Vi consistência na propositura e a divulguei, dando destaque na página 3. No período, as sessões plenárias eram realizadas a partir das 17h. Eu ia primeiramente na Assembleia Legislativa, na Rua do Egito e depois finalizava minha coleta de dados para a página política do JH na Câmara, seguindo depois a pé para o matutino, na rua Cândido Ribeiro, nas proximidades do Mercado Central.
O Legislativo Ludovicense vivia momentos de tensão, com a oposição, composta por 10 dos 21 vereadores, tentando, a todo custo abrir uma CPI contra o prefeito Mauro Fecury. Tudo por conta da aquisição, por parte da Prefeitura, de um terreno localizado na Vila Ivar Saldanha, onde funcionou a Ivesa, indústria de propriedade da família Murad.
O vereador Hélcio Silva batia pesado. A imprensa tomou conta da história, num escândalo que se convencionou chamar de “O buraco da Ivesa”. Para instalar a CPI, Hélcio Silva precisava do apoio decisivo de Hilton Rodrigues, vereador do MDB, que era sogro do então deputado federal Epitácio Cafeteira que viria a ser eleito governador do Estado dois anos depois.
Hilton Rodrigues faltou à sessão em que seria definida a instalação ou não da Comissão Parlamentar de Inquérito A CPI morreu ali. No dia seguinte, o bloco oposicionista cobrou o posicionamento do seu integrante. Seus adversários fizeram pilhéria. De pavio curto, Hilton Rodrigues foi à tribuna e terminou seu pronunciamento batendo forte nos adversários e também em aliados.
E foi exatamente contra Hilton Rodrigues que Assub conquistaria, em 1987, sua mais brilhante e emocionante vitória, ao vencer a presidência da Câmara, por apenas um voto de diferença.
O tempo passa, a Câmara muda para o prédio onde funciona hoje, na Praia Grande e acabei virando interlocutor de Assub e de outros vereadores, que eram minhas fontes. Em 1986, passei quatro meses exercendo uma função gratificada, por iniciativa do vereador Altair Rosas. Ele era suplente e havia assumido o mandato temporariamente.
Lembro que, na véspera da eleição, o chefe do Executivo Estadual reuniu um grupo majoritário de vereadores, para consolidar a vitória do genro. No dia do pleito, 3 de março, domingo de Carnaval, no plenário da Câmara, podia se confundir membros do secretariado do governo com vereadores, O ambiente estava repleto de secretários e de outros membros de escalões inferiores do governo, pressionando vereadores a votarem no candidato do chefe.
É bom citar que os 10 vereadores da oposição eram alinhados a Cafeteira e os da situação, pertenciam ao bloco do prefeito Mauro Fecury, que, por sua vez, havia sido nomeado por indicação de José Sarney. No ano anterior, Cafeteira havia sido eleito com apoio do presidente José Sarney e ambos estavam aparentemente, alinhados. Isso porque Cafeteira teve o apoio de Ulysses Guimarães e de Tancredo Neves, ambos do MDB, para a consolidação de sua candidatura.
Eu havia entrevistado Cafeteira em janeiro de 1985, quando ele anunciou que seria candidato ao governo. Numa matéria de página inteira, destacou que tinha apoio de Ulysses e de Tancredo e que não havia assinado nenhum documento apoiando a indicação de Sarney como vice de Tancredo. Até então, Sarney e Cafeteira eram como água e óleo na política local. Adversários declarados, cujos apoiadores só faltavam ir ao confronto físico.
Para ser vice de Tancredo, Sarney deixou o comando do PDS, considerado, até então, o maior partido político da América Latina e se foliou ao MDB. Virou correligionário do maior desafeto no Maranhão. Teriam que se acomodarem no mesmo grupo. O cenário nacional determinava essa até então impensada aliança. Na eleição para o governo, Cafeteira teve o apoio de Sarney. Quase ao final do governo, romperam e cada um foi para seu lado. Cafeteira se aliou a Jackson Lago, com quem romperia posteriormente, se aliou a João Castelo e, no ocaso de sua carreira política e da vida, exercendo o mandato de senador, acabou voltando a se aliar a Sarney.
A morte de Tancredo,em 21 de abril de 1985, serenou os ânimos na política local e todos sabem que houve uma dúvida na cúpula do governo militar, se passariam o governo a Sarney ou a Ulysses, que era presidente da Câmara Federal, havia liderado a campanha pelas eleições diretas e se notabilizaria por conduzir a Assembleia Nacional Constituinte, promulgando em 5 de outubro de 1988, a atual Carta Magna do País. No final, decidiram que Sarney seria o substituto do presidente eleito pelo Colégio Eleitoral.
A Câmara Municipal estava em ebulição naquele dia, em que elegeria o novo presidente, em substituição a Lia Varela, primeira mulher a se eleger presidente daquela casa parlamentar. E por mais de uma vez, porque ela havia sido presidente de 1978 a1981. Vejo que falta informações a determinados grupos políticos, que desconhecem a história de Lia Varela a primeira mulher negra no Parlamento Municipal de São Luís. Foi presidente e chegou a exercer o cargo de prefeita da capital interinamente.
A disputa ocorreu no dia 3 de março, em pleno Domingo de Carnaval. Vi que toda a imprensa e os servidores da Câmara estavam torcendo por Assub. O voto era secreto. Terminada a apuração, foram consignados 11 votos para Assub contra 10 de Hilton Rodrigues. O Carnaval do grupo vitorioso começou ali, na mesma hora. Alguns vereadores, com grupos de amigos e familiares foram comemorar nos bares e restaurantes da Praia Grande.
No final da tarde depois que entreguei meu material para a editoria, fui para a Praça Deodoro, onde era realizado o Carnaval naquele período. Lá, encontro o Assub com o casal de filhos, Clícia Maria e José Assub Neto.
-Gostou da vitória, Djalminha?
Tu é meu amigo do peito. Vou melhorar tua situação salarial. Tu mereces!
Retruquei que não tinha vínculo nenhum com a Câmara e esquecemos o assunto.
Eis que, numa modorrenta manhã de segunda-feira da primeira quinzena de abril de 1988, ano de eleições municipais, chego à Câmara e encontro o Assub na porta, conversando com um grupo de funcionários.
Ao me ver, se afasta dos interlocutores e me abraça dizendo:
-Tu tens que ir comigo agora no setor de Recursos Humanos, para assinar tua portaria como diretor de Comunicação!
Como estava com muita demanda, além do JORNAL DE HOJE, sugeri o nome do Udes Cruz, muito amigo dele. Acatou e me fez manter o contato com Udes, que, no dia seguinte esteve com ele e assumiu a função. Quem estava no exercício do cargo era o saudoso poeta e jornalista Cunha Santos Filho. Estava se desincompatibilizando do serviço público para disputar uma vaga de vereador.
Logo no início de sua gestão como presidente da Câmara, Assub mostrou todo o seu diferencial. Aboliu o sistema de segurança no gabinete presidencial, determinando que a porta estaria sempre aberta a quem o procurasse. Fosse vereador, servidor ou visitantes. Quando queria conversar a sós qualquer pessoa, recorria a uma salinha ao lado, chamada de cafua. Conciliador, não teve problema com a administração do então prefeito Jackson Lago, que fazia forte oposição ao seu grupo. Chegou inclusive a assumir a prefeitura de São Luís interinamente.
No final de 1987, quando ainda não havia Lei de Responsabilidade Fiscal e prestação de contas do dinheiro público era coisa de ficção contábil, ele surpreendeu. Houve uma sobra dos recursos repassado pela Prefeitura e ele determinou a divisão do dinheiro entre todos os funcionários, do mais graduado diretor ao operacional de serviços diversos. Até hoje, essa história é contada nos corredores do Legislativo Ludovicense pelos servidores mais antigos.
Bonachão, também era grande contador de histórias. Agradava pela sua forma de cumprimentar os amigos, principalmente quando se tratava de um a quem há tempos não via.
– Transmissão de pensamento. Deus me disse que te encontraria por estes dias, porque sonhei contigo esta noite!
Era uma de suas formas de saudação.
Para os que via diariamente, mudava um pouco.
-Acabei de pensar em ti! Vem cá, de d´pa um abraço, tu mora no meu peito!
Era esse o Raimundo Assub, que certa vez, junto com o também saudoso João Evangelista, fizeram com que viajasse até a cidade de Miranda do Norte, para que os dois me fizessem, de forma indireta, dar um recado a Chico Carvalho, em 1995, então presidente da Câmara, ocasião em que já exercia a função de Diretor de Comunicação Social desde 1992.
Assub passou de segunda a sexta-feira, todas as noites, indo para a sede do jornal ATOS E FATOS, onde eu era editor, para reforçar o convite no sentido de passar o domingo em sua fazenda, no povoado Carro Quebrado. Ele e João Evangelista havia adquiridos terras vizinhas, via financiamento do BNB, e montaram suas fazendas lado lado.
No sábado decidi ir, junto com a Elineusa. Chegamos às 23h e os dois estavam, assim como a esposa do Assub a Olgarina, nos esperando na beira de um lago, ouvindo música e tomando cerveja.
Cheguei, me inseri na conversa e senti que havia sido convidado para dar um recado ao presidente.
Aprendi na Câmara, desde cedo, que em política, deve se falar pouco, ouvir muito e também que não se deve falar muito de forma direta, mas, na maioria das vezes, por códigos. Codifiquei o que eles queriam e, na manhã do dia seguinte, subi a um morro, em busca de sinal para o velho Motorola, no início da era do celular e liguei para Chico Carvalho, explicando a situação.
Na terça-feira seguinte, os três foram vistos almoçando no restaurante Natureza, na Raposa, bem próximo onde Assub morava num amplo sítio.
O bairro Bom Viver, na cidade de Raposa, deveria se chamar Vila Raimundo Assub. Toda a área era de propriedade do vereador, que fez a doação para um grupo de sem terra que estava ameaçando uma invasão. Doou tanto essa área como a terra onde está instalado o cemitério municipal da cidade.
Essas e outras histórias dão uma exata dimensão de quanto era solidário o saudoso político. Depois de abandonar a política de São Luís, após 16 anos como vereador, se mudou para a Raposa, onde chegou a ensaiar uma candidatura a prefeito, mas desistiu da empreitada e passou a atuar no ramo da agropecuária, em sociedade com o filho, José Assub Neto.
Ele faleceu aos 71 anos, vítima de ataque cardpiaco, no dia 15 de agosto de 2012, abrindo uma grande lacuna na política municipalista. Deixou viúva Olgarina Lima, com quem teve os filhos Antônio Ibrahim e João Vítor. Do primeiro casamento com Maria da Graça, foram gerados José Assub Neto e Clícia Maria.
Deixou uma larga folha de serviços prestados à política municipal e se caracterizou pelo carisma, pela seriedade e solidariedade.