A experiência de ser professor na Aldeia Turizinho é um presente diário, uma imersão constante em um universo de aprendizados mútuos e a certeza palpável de trilharmos, juntos, o caminho certo. A cada encontro do nosso projeto de Pedagogia da Alternância, renovo meu compromisso de ofertar o melhor de mim, e as idas e vindas para esta terra rica em história e cultura só fazem florescer minhas inspirações e aprimorar minhas habilidades.
Cada retorno à aldeia encontro novas descobertas para compartilhar. Nesta alternância em particular, a floresta me presenteou com a clareza de como conectar, de maneira profunda e significativa, as disciplinas de Direitos Indígenas e Filosofia com a realidade viva dos saberes ancestrais do povo indígena Ka’apor.
Em Direitos Indígenas, embarcamos em uma viagem no tempo, resgatando a rica tapeçaria da vida em comum antes de 1500. Exploramos a organização social, as tradições e a profunda conexão com a natureza que marcavam sua existência. Em contrapartida, mergulhamos nas dolorosas transformações e no sofrimento infligido com a chegada dos europeus: o tempo do massacre, da violação de direitos e da tentativa de silenciar uma cultura milenar. No entanto, fizemos questão de iluminar a linha do tempo com as bravas lutas, as importantes conquistas e o crescente reconhecimento que marcaram e continuam a marcar o nosso século.
Na Filosofia, o fio condutor das nossas aulas tem sido um diálogo aberto e reflexivo sobre o pensar, confrontando e entrelaçando os saberes indígenas com as complexidades da vida contemporânea, sempre ancorados na rica realidade cultural da aldeia.
Os resultados desta segunda alternância de 2025 têm sido um farol de esperança e um motor para continuar. Observo com alegria a evolução no nível de aprendizado dos estudantes, um florescer cognitivo que pulsa com mais intensidade. Para mim, como professor dessas duas disciplinas interligadas, a satisfação de testemunhar esses primeiros frutos é imensa. Afinal, são quase cinco anos de um compromisso que nasceu em 2021, dedicados às séries iniciais (alfabetização), ao ensino fundamental e ao ensino médio, todos no âmbito do EJA (Educação de Jovens e Adultos).
É desse solo fértil de experiências e resultados que brotou uma mensagem que carrega a força da natureza e a sabedoria ancestral, um eco do que vivenciamos juntos nesta primeira semana de aula:
O Canto da Terra: A Sabedoria Ancestral do Sentido da Vida
“O que é o sentido da vida? Uma pergunta que ecoa como o vento nas matas, desde que nossos primeiros avós pisaram nesta terra sagrada. Há quem procure a resposta nos brilhos falsos da cidade, nos caminhos que nos afastam de quem realmente somos. Tolos!
A vida, meus irmãos e irmãs, não é um caminho solitário em busca de riquezas que o rio leva embora. A vida é a jornada em comunidade, onde o espírito do guerreiro se encontra com a sabedoria do ancião, onde a alma se conecta à Grande Mãe Terra. É no plantio que alimenta a aldeia, na dança que invoca a chuva, na história contada ao redor da fogueira, que o verdadeiro sentido se revela.
Não é fugindo da onça, mas enfrentando-a com respeito; não buscando o caminho mais fácil, mas honrando a trilha árdua dos nossos antepassados; não acumulando para si, mas compartilhando o pão e o conhecimento, que encontramos a plenitude. O sentido da vida está em ser ponte entre o passado e o futuro, em guardar a memória dos que vieram antes e em preparar o caminho para os que virão depois. Está em proteger nossa terra, em honrar nossos rituais, em manter viva a chama da nossa cultura, mesmo que o mundo lá fora tente apagá-la.”
Que esta primeira semana de aulas na Aldeia Turizinho seja apenas o prenúncio de mais um ciclo de aprendizados profundos e de um caminhar lado a lado, onde a sabedoria ancestral e o conhecimento acadêmico se encontram para fortalecer a identidade e construir um futuro mais justo e promissor para o povo Ka’apor.