Informação foi levantada na operação que investiga o funcionamento de uma “estrutura paralela” na agência inteligência no período do governo Bolsonaro
Eleita vereadora do Rio em 2016, com 46 mil votos (5ª candidata mais votada), Marielle Franco (PSOL) teve o mandato interrompido por 13 tiros na noite de 14 de março de 2018, num atentado que vitimou também seu motorista Anderson Gomes — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A Polícia Federal apontou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizada para monitorar ilegalmente a promotora de Justiça do Rio de Janeiro Simone Sibilio, responsável por investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco ocorrido em 2018. A promotora deixou o caso em 2021. A operação para espioná-la está descrita na decisão em que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou buscas e apreensão contra o ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.
“Ficou patente a instrumentalização da Abin, para monitoramento da Promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa sobre os homicídios qualificados perpetrados em desfavor da vereadora Marielle Franco e o motorista que lhe acompanhava Anderson Gomes”, diz trecho da decisão de Moraes.
Segundo o inquérito da PF, o monitoramento sobre a promotora teria sido feito pela “estrutura paralela infiltrada na Abin” durante a gestão de Ramagem (PL-RJ). Homem de confiança de Bolsonaro e delegado da PF, Ramagem foi alvo de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira.
A decisão de Moraes diz que os investigadores identificaram um resumo do currículo da promotora do caso Marielle ao analisar o material apreendido. Esse arquivo estava com a mesma formatação dos relatórios apócrifos criados pela “estrutura paralela” da Abin.
“Os documentos elaborados sobre a autoridade pública teriam a mesma identidade visual dos apócrifos elaborados pela estrutura paralela da Abin”, destacou a PF.
Com base nesse e outros indícios, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que “existia” uma “Abin paralela” que era acionada com o objetivo de “colher dados sensíveis sobre autoridades e agentes políticos relevantes”.
Como revelou O GLOBO, o ex-policial Ronnie Lessa, apontado como executor do crime, negocia um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Os termos só pode ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o que indica que a pessoa que mandou executar Marielle teria cargo público.
Outros casos
Além do monitoramento sobre a integrante do MP do Rio, a Polícia Federal também investiga se a Abin produziu dossiês envolvendo os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e se vigiou o ministro da Educação, Camilo Santana, quando era governador do Ceará.